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Conspirações COVID - Vacinas, microchips e o controlo da população

Atualizado: 11 de fev. de 2021


O que têm em comum os movimentos anti vacinas, hippies e movimentos de extrema direita como o QAnon? As alegações de que a pandemia por coronavírus é uma fachada para encobrir um plano maquiavélico para a implantação de microchips rastreáveis com a vacinação em massa e de que o milionário Bill Gates está por trás dela.


28% dos americanos acredita que a vacinação levará à implantação de microchips de rastreamento

Esta é a segunda publicação de uma série de 9, em que analiso o contexto que esteve por trás da criação de conspirações médicas e explico passo por passo como podemos desmistificar estas mentiras. Esta publicação, tal como a conspiração que pretende esclarecer, tem pouco conteúdo do foro médico. No entanto, tem uma consequência iminentemente médica: a criação de um sentimento de desconfiança relativamente às vacinas e a terrível sensação de que a ciência conspira contra a população.



TEORIA: A vacina para o Coronavírus transporta um chip de tecnologia superior que permitirá o controlo da população no futuro

É importante esclarecer que esta não é apenas uma teoria da conspiração, são várias numa só. Tal como as variantes do coronavírus, parecem existir diversas variantes das mesmas teorias em circulação. Quase todas elas envolvem diretamente o milionário Bill Gates, que se tornou num alvo de notícias falsas após ter criticado publicamente a redução de fundos da Organização Mundial de Saúde anos antes da pandemia. Numa Ted Talk de 2015, Bill Gates discutiu o surto de Ébola e preveniu a comunidade de forma quase profética para a possibilidade de uma nova pandemia que pusesse em risco a humanidade. Este vídeo de 2015 foi considerado uma prova de que Gates sabia que a pandemia iria acontecer ou ainda pior… Que esteve por trás da sua origem.

Outra variante desta teoria, que recolhe simpatias junto dos movimentos anti vacinas é a de que a COVID-19 é parte de uma conspiração para vacinar a humanidade e com isso controlar o mundo. Foi espalhado com sucesso o rumor de que a vacinação em massa faria parte de um estratagema para implantar microchips para rastreio e controlo da população. Os rumores pioraram quando em março Gates disse numa entrevista que “poderia ser necessário alguma espécie de certificado digital” que iria ser usado para saber quem já tinha sido infetado e tinha recuperado e quem já fez a vacina.




FACTO: O Bill Gates nunca sugeriu a implantação de um microchip e o microchip nunca poderia ser inserido através de uma vacina.


Um artigo da agência noticiosa Reuters de 04 de dezembro Fact check: RFID microchips will not be injected with the COVID-19 vaccine, altered video features Bill and Melinda Gates and Jack Ma revela um vídeo manipulado de 3:49 minutos que foi disseminado de forma viral, com filmagens editadas de Bill, Melinda Gates e Jack Ma seletivamente combinados. Neste artigo, são revelados os extratos das entrevistas originais e revela como foram combinados e editados para transmitir informação falsa.

A fundação Bill e Melinda Gates desmentiu várias vezes a alegação do suposto microchip. Os mencionados certificados digitais foram uma ideia de Gates já de março de 2020 para possibilitar o reinício da economia, nomeadamente as viagens a todos aqueles já vacinados em segurança. Através da sua fundação, Gates tem desenvolvido um trabalho filantrópico extenso em várias áreas da saúde pública mundial e sido o rosto público de uma campanha sem tréguas a favor da vacinação, o que o tornou num alvo dos movimentos anti vacinas. A proposta de Gates, tal como clarificado pela sua fundação à BBC, seria a aplicação de uma tinta na pele (como uma tatuagem invisível), que permitisse a verificação de que a pessoa em causa já foi vacinada e pode circular sem necessidade de restrições, nomeadamente para eventos com grandes concentrações de pessoas (concertos, igrejas, desporto, etc.).




FACTO: Um microchip não poderia rastrear humanos


De forma muito clara: não existe tecnologia que possa rastrear pessoas através de uma vacina. Apesar de existirem microchips, até injetáveis, eles não são capazes de rastrear ninguém. Por exemplo os microchips colocados nos animais de estimação, como os cães, permitem aos humanos rastreá-los em caso de perda, mas não funcionam como um GPS, porque não podemos saber em tempo real onde estão. É antes um chip que contém informação acerca do animal, como o nome, número de registo e contacto do dono ao qual um veterinário poderá aceder numa clínica.

O artigo “Microchips Inserted via Vaccine Would Be a Terrible Way to Track People” da Revista Slate escrito em parceria com a Arizona State University, clarifica esta questão. Quer em cães ou humanos, estes microchips RFID só transmitem informação; para um microchip nos conseguir rastrear, seria necessário que recebessem e enviassem informação de uma torre de telecomunicações, o que constitui uma transação particularmente dispendiosa de energia. Ou seja, o chip necessitaria de um pack de baterias. Tal como o nosso telemóvel precisaria de energia para rastrear ou ser rastreado usando o GPS.

Falando em telemóveis e rastreamento, curiosamente, apesar da tecnologia de rastreamento não existir para microchips e vacinas, já existe e é usada por todos de forma muito voluntária nos telemóveis.


“O Bill Gates não necessita de implantar um dispositivo de rastreamento da população dentro das pessoas, porque o Steve Jobs já nos fez comprar um” - Tom Scocca, editor da Revista Slate

FACTO: O microchip nunca poderia ser inserido através de uma vacina.


Foi ainda feita prova de que o calibre da agulha de uma vacina nunca conseguiria implantar um microchip. Tal como esclarece a revista Medical News Today não é possível encolher estes ingredientes até um tamanho pequeno o suficiente para caber numa agulha de vacina, particularmente fina, já que os microchips têm sensivelmente o tamanho de um grão de arroz.

Comparação do calibre das agulhas das vacinas e microchips

FACTO: Está efetivamente a ser considerado por vários países o uso voluntário de um passaporte de vacinação, que permita o retomar da atividade social e económica pré-pandemia


À data da redação desta publicação, em fevereiro de 2021, de acordo com o NY Times e diversas outras fontes noticiosas governos de vários países (EUA, Reino Unido, Dinamarca, Alemanha, Chile) e agências de aviação como a Emirates, estão empenhadas na criação de um passaporte físico ou digital para certificação de quem já foi vacinado e que por isso possa estar isento de restrições de deslocações como viagens aéreas e possa retomar a vida diária. Uma empresa norte-americana da área de informática (a IBM), está também a desenvolver um passaporte digital que permitiria aos cidadãos apresentarem um teste negativo ou a prova de vacinação não só para viajar, mas também ir a um concerto ou um estádio de futebol. Estes certificados poderiam ser úteis para vários setores, nomeadamente turismo e entretenimento, para os quais obter lucro tem sido um constante desafio.


Serão os passaportes de vacinação o bilhete de entrada na vida pós pandemia?

Esta prova de vacina para viagens não é novidade, uma vez que durante décadas, o Certificado Internacional de Vacinação, ou “cartão amarelo” servia como prova de vacinação da febre amarela, ou cólera por exemplo, exigida por certos países para permitir a entrada de viajantes do exterior. Isto já ocorria antes de viagens para muitos países como a Costa Rica, Panamá, Egito, China, Índia, Vietnam, ou Austrália e não é por isso uma bizarria dos tempos pós pandemia.


Outras Publicações de Interesse


1. Fact check: RFID microchips will not be injected with the COVID-19 vaccine, altered video features Bill and Melinda Gates and Jack Ma, Reuters, December 4, 2020


2. Tim Newman, Addressing 13 COVID-19 vaccine myths

January 29, 2021


3. WHO “Immunity passports” in the context of COVID-19 scientific brief. April 24, 2020


4. Jane C. Hu, Microchips Inserted via Vaccine Would Be a Terrible Way to Track People, Slate, May 27, 2020


5. Tariro Mzezewa, Coming Soon: The ‘Vaccine Passport’. The New York Times, Feb. 4, 2021


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